Cardeal Karl Lehmann |
A vida e as suas questões fundamentais
"As questões fundamentais sobre o sentido e o objectivo da vida, sobre o bem e o mal, sobre a verdade e o erro não desaparecem numa sociedade saturada e livre. Nem têm resposta da parte da ciência e da técnica. Exactamente quando a pessoa não está completamente absorvida pela preocupação com o pão de cada dia e está livre de obrigações religiosas ou ideológicas, então é que as questões do sentido da própria vida aparecem de forma mais premente: a pergunta sobre o que é que eu como indivíduo, o que faço com o tempo limitado que tenho para viver, que proposta de sentido sigo, que valores e objectivos... (Conferência 04/2007)O
Evangelho: força de simplicidade para a vida
"Do princípio ao fim há no Evangelho a força da simplicidade que nos dá coragem para crer no meio da complexidade da vida moderna. Se não, tínhamos de desesperar perante a multiplicidade de propostas e de promessas de salvação da civilização moderna. A simplicidade do Evangelho dá à nossa vida uma força e uma dinâmica insubistituíveis: acreditar em Deus em vez da autonomia absoluta do ser humano, a força da connfiança perante todos os fracassos e desânimos, a misericórdia com a sua força perante todo o rigorismo duro, a superioridade da prontidão para a paz e para a reconciliação sobre a agressão e a destruição, a vitória dos poderes da vida sobre todas as formas de morte, hoje tantas vezes difarçadas. Tudo isso é fruto do Evangelho" (Carta Pastoral para a Quaresma 2015)
A necessidade de uma espiritualidade mais realista
"Há uma `noite da fé`, uma secura, um deserto, uma procura de Deus mesmo para aquele que crê. Para mim ficou como algo importante este realismo da fé bíblica: há lugar para a queixa, para a lamentação do coração, que envolve todo o corpo. Uma fé bíblica que admite que se possa gritar na oração. A nossa oração e a nossa espiritualidade são demasiado afastadas do corpo. E há muitas coisas que sacodem o ser humano até aos ossos. Aqui ha que redescobrir a verdadeira piedade e espiritualidade"(Do livro: "É tempo para pensar em Deus", 2000)
A nossa vida e o seu fim
"Não nos demos a vida a nós mesmos. Fomos prendados, mesmo naquilo que conseguimos. Por isso é importante nunca esquecer de que, diante de Deus, somos sempre pobres, velhos ou novos, precisamos sempre d`Ele e dos outros. Só nesta gratidão por tudo o que recebemos dia a dia de Deus é que ficamos ricos. E com a idade ganhamos sabedoria se nos tornarmos capazes de voltar a colocar a vida nas mãos de Deus." (Conferência, 10/2000)"O cristão do futuro será uma testemunha, ou em breve não sera nada. Como testemunha, fala de algo atrás do qual ele está, e deste modo esse "algo" actua. Será uma testemunha missionária, que poderá lançar luz em muitos cantos da nossa vida, onde o braço da hierarquia não chega. E assim podem tornar-se realidade a tão falada autonomia do cristão adulto e o sacerdócio comum. E é por aí que seremos avaliados, não tanto pelas funções e cargos que temos" (Assembleia plenária da Conferência Episcopal, 09/2005)
Concílio Vaticano II
"Há ainda muito para realizar do Concílio Vaticano II. E depois não há que esperar tudo de um concílio mundial. As estruturas sinodais da Igreja a todos os níveis devem ser reforçadas, como o Papa Francisco com frequência acentua. Se depois ainda houver questões para resolver, que só uma assembleia a nível mundial pode resolver, então sim há que convocar um terceiro concílio do Vaticano". (Entrevista 7.12.2015)
Uma Igreja em diálogo
"Serviço e diálogo são as formas como o Evangelho chega às pessoas. O Evangelho tem a ver com esta atitude de serviço e de diálogo: é serviço ao que parecia perdido e que deve ser salvo; e torna-se especialmente eficiente em diálogo com o mundo. O diálogo não é a única forma como o Evangelho pode actuar. Pode ser também de outras formas: uma advertência, um cântico, uma queixa, uma narrativa, um protesto, uma ordem... mas é de certeza no diálogo o modo por excelência de o Evangelho atingir aqueles a quem se dirige". (Evangelium und Dialog, 1990)
O lugar dos leigos
"O lugar dos leigos foi muito melhorados e aprofundado no tempo a seguir ao Concílio. Onde isso mais se nota é na corresponsabilidade dos leigos em muitos grémios pastorais e a todos os níveis. (...) O Leigo não é só responsável pelas dimensões seculares da vida devido à sua situação sociológica de estar "no mundo". Ele tem competência para realizar a existência cristã no mundo secular, uma competência que lhe advém do Baptismo e do Crisma. Nas formas profanas da sua profissão o leigo tem de tornar visível a fé vivida. Para isso não precisa de ordenação. O leigo crente faz isso a partir de uma obediência a Jesus Cristo e numa autonomia responsável e livre". (Wer ist die Kirche 1990)
Novas vias de acesso ao ministério de presbítero
"Esforcei-me sempre para a que a Igreja reflicta sobre novas vias de acesso ao sacerdócio, sem que a discussão do tema fosse idêntica como uma resposta a esta questão difícil" (in Glauben und Leben, 2011)
"Lutei sempre pela questão dos `viri probati`, ou seja homens que deram provas no matrimónio e família, e que podiam ser ordenados padres. ...Penso que este tema vai voltar e em força. Não podemos continuar a imnportar padres da Índia e da Polónia, quando temos aqui gente apta para os serviços e carismas." (Glauben und Leben, Extra, 05/2016)
Uma Igreja aberta a todos: onde não há estrangeiros!
"Todos os que acreditam e são baptizados têm a mesma cidadania. A Igreja não se define pelos limites de uma nação ou de uma língua. Isto tem de ter consequências perante os "estranhos" que vivem entre nós, não só os que partilham a mesma fé, mas todas as pessoas, porque são criaturas de Deus, portadores da sua imagem e semelhança e por Ele convidados de graça para a salvação". (Begegung mit dem Fremden 1985)