Espiritualidade:
viver a novidade do Evangelho

Aqui publicamos regularmente textos, poemas, orações que possam ajudar a viver a novidade do Evangelho

 

 

O que te atraiçoa

Tu também és uns desses
que andam com Jesus.
A tua línguagem atraiçoa-te
o teu sorriso
a facilidade com que tu
te pões a sonhar o impossível,
te pões a dizer o inexprimível
e te pões a fazer coisas fora do comum.

Mas também essa mania
de te empenhares
de ajudares outros.
O teu amor à verdade,
a tua inquietação
quando alguém precisa,
a tua fome e sede
de justiça.

Esta confiança inexplicável,
que te suporta, a paz
que irradia de ti.
Como quando vês
os que os simples mortais
não vêem
não vêem nem imaginam !

Lothar Zenetti

NATAL 2011

Anuncio-vos uma grande alegria:
Nasceu-vos HOJE um salvador!
- assim anunciaram os anjos o nascimento de Jesus aos pastores de Belém, no meio da noite.

HOJE
S. Lucas faz questão de sublinhar este HOJE: fá-lo várias vezes ao longo do seu Evangelho: "Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura"; "hoje entrou a salvação nesta casa"; "hoje mesmo estarás comigo no paraíso".... É o hoje de Deus, um hoje sem tempo, sem risco de se tornar passado, porque Deus é Javé, Aquele que é.
Este HOJE da salvação chega HOJE aqui ao meio de nós; a luz que os invadiu naquela noite é a luz que invade as nossas almas HOJE e aqui; a alegria anunciada aos pastores torna-se HOJE a nossa alegria...

Que alegria é esta?
È a alegria de sabermos na fé, de acreditarmos, que Deus veio habitar no meio de nós. O nosso Deus não é o Deus distante: Ele vem meter-se na nossa vida, tornando-se um de nós - vem percorrer os caminhos do nosso mundo, fazendo deles caminhos de salvação.
A salvação veio ao nosso encontro. É-nos dada! Está no meio de nós! É-nos dada num menino frágil - esta é lógica de Deus - que não se impõe, por qualquer tipo de poder, mas se oferece, para ser acolhido.

É alegria de sentirmos neste Menino de Belém quanto Deus nos ama,: "Glória a Deus nas alturas e paz na Terra às pessoas, que Deus ama"!

Os primeiros a receber esta alegre notícia foram os pastores: e também aqui há uma mensagem de Natal:
Não foi aos grandes e poderosos de Roma e de Jerusalém que Deus se dirigiu...
Não foi aos sacerdotes e aos bem-comportados daquele tempo, àqueles a quem a relgião considerava salvos, aos que cumpriam todas as leis religiosas e morais, não foi a eles que Deus se dirigiu...
Nem foi aos habitantes da cidade, conformados e satisfeitos com o seu relativo bem estar...

FOI AOS PASTORES, gente marginal, considerada primitiva, suspeitos aos olhos dos representantes da lei e da religião
- foi a eles que Deus anunciou a notícia alegre do nascimento do Salvador.
Se nós, os que estamos aqui, nos sentimos tantas vezes do lado destes pastores, na consciência das nossas fraquezas e falhas, alegremo-nos HOJE ! É a nós que Deus se dirige: "Não temais... encontrareis um Menino..."

Era bom que todas as pessoas do nosso tempo ouvissem este convite de Deus, que alegra a vida. A começar por aqueles e aquelas que se sentem marginalizados/as pela instituições e pela Igreja.... aqueles e aquelas cujas vidas nem sempre correm conformes às regras e às leis. Era bom que a eles/elas chegasse HOJE a mensagem que chegou aos pastores...
E também aos têm medo do futuro. Nos nossos dias, fala-se tanto de crise. Vivemos tempos inseguros, incertos... os especialistas e entendidos da economia e da política mostram um certo nervosismo. Muitos sentem já esta crise, no seu dia a dia: os mais pobres, os desempregados a longo prazo, os dependenetes das instituições sociais... Tempos duros....
Quase que podíamos dizer como no tempo de Isaías: o povo que andava na escuridão, os que viviam na sombra... na escuridão da noite... É a esses que Isaías reanima na esperança, anunciando a salvação, com a imagem da luz que a todos ilumina, com a chegada de tempos de paz, de confiança, de fraternidade.

Celebrar o Natal para nós HOJE é acreditar que Deus já está no meio de nós, sem nós o merecermos, é verdade - nós somos como os pastores! - que Ele vem iluminar, Ele quer iluminar, com a Sua luz a nossa vida. Vem com o seu amor que é maior que todas as nossas fraquezas. Dá-nos a salvação como prenda!
Deixemos de lado as divisões, as guerras, os egoísmos interesseiros.. Tornemo-nos solidários. Ultrapassemos os medos do futuro, confiando a nossa vida a este Deus, como o fez Jesus de Nazaré, este menino, cujo nascimento hoje celebramos!
Alegremo-nos HOJE, uns aos outros e uns com os outros, porque é Natal.

JN
Meditação na noite de Natal 2011

 

O Deus do convite

Segundo a parábola do Evangelho, Deus está a preparar uma festa final para todos os seus filhos e filhas, pois a todos quer ver sentados à volta da mesma mesa, desfrutando para sempre de uma vida plena. Esta é uma das imagens mais queridas de Jesus para sugerir como será o fim da história humana.

Diante de tantas imagens mesquinhas de um Deus controlador e justiceiro que impede a muitos de saborear a fé e desfrutar da vida, Jesus introduz no mundo a experiência de um Deus que nos convida a partilhar com Ele uma festa fraterna, na qual culminarão o melhor dos nossos esforços, anseios e aspirações.

José Antonio Pagola
9 de outubro de 2011
28 Tiempo ordinario (A)
Mateus 22, 1-14
Texto completo (em castelhano): http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/10/03/p302844#more302844

"Coragem! Sou eu!"

S. Mateus recolheu a lembrança de uma tempestade vivida pelos discípulos no mar da Galileia para convidar os seus leitores a escutar, no meio das crises e dos conflitos que se vivem nas comunidades cristãs, o apelo de Jesus a confiar n`Ele.
(...) Quando Jesus se aproxima, caminhando sobre as águas, os discípulos não o reconhecem e, aterrados, começam a gritar, cheios de medo. O Evangelista faz questão de assinalar que o medo deles não era provocado pela tempestade, mas sim pela incapacidade de descobrir a presença de Jesus no meio da crise e de escutar o seu grito: "Coragem, sou eu, não tenhais medo!"

José Antonio Pagola
7 de agosto de 2011
19º domingo comum (A)
Mateus14, 22-33

Texto completo (em castelhano): http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/08/01/p299799#more299799

Pentecostes

Redescobrir o Essencial

Será legítimo chamar "Contra-Reforma" a um conjunto de manifestações clerocratas e devocionais que se julgava, definitivamente, abandonadas depois do Vaticano II? Não sei, mas pelo que me é dado observar, impõe-se, com urgência, tentar redescobrir o essencial do cristianismo para que a acção pastoral da Igreja não troque o principal pelo secundário. Para esse debate será importante convocar a posição radical de S. Tomás de Aquino . Segundo este grande filósofo e teólogo dominicano, a lei nova, isto é, o próprio Evangelho, é uma lei inscrita no coração. Toda a realidade existe e se define pelo que, nela, é o valor supremo; ora, o que na lei da nova aliança é o valor supremo, aquilo em que consiste todo o seu poder, é a graça do Espírito Santo dada pela fé em Cristo. É infundida no coração como inclinação de amor e fonte de liberdade. Tudo o resto é secundário, isto é, só pode servir para secundar, preparar e exprimir essa libertação.

Carregar os fiéis com códigos, prescrições e proibições é contrariar essa lei nova. Sem esse Espírito, até a própria letra do Novo Testamento mata. Tomás de Aquino vai ao ponto de dizer que quem evita o mal, não porque é mal, mas por causa do mandamento de Deus, não é livre; mas aquele que evita o mal porque é mal, esse é livre e é isso que é realizado pelo Espírito Santo, aperfeiçoando, interiormente, o ser humano.

Frei Bento Domingues,
in O PÚBLICO, Lisboa, 12.06.2011
(Extracto)


Pentecostes

Segundo S. João, o Espírito torna presente Jesus na Comunidade Cristã, recordando-nos a sua mensagem, fazendo-nos caminhar na sua verdade, interiorizando em nós o seu mandamento do amor. É esse Espírito que nós invocamos na Festa do Pentecostes.

Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a invocar a Deus com esse nome de "Pai", que Jesus nos ensinou. (...)

Vem, Espírito Santo, e faz-nos caminhar na verdade de Jesus. Sem a tua luz e o teu alento esqueceremos com frequência o seu projecto do Reino de Deus. Viveremos sem paixão e sem esperança. (...)

Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a anunciar a Boa Nova de Jesus. Que não lancemos cargas pesadas sobre ninguém. Que não ditemos sobre problemas que não nos doem, nem condenemos a quem necessita sobretudo de acolhimento e de compreensão. Que nunca quebremos a cana rachada nem apaguemos a torcida que fumega.

Vem, Espírito Santo, e infunde em nós a experiência religiosa de Jesus. Que não percamos tempo em trivialidades enquanto esquecemos a justiça, a misericórdia e a fé.(...)

Vem, Espírito Santo, e aumenta a nossa fé para experimentarmos a força de Jesus no centro de nós mesmos e da nossa debilidade. (...)

Vem, Espírito Santo, transforma os nossos corações e converte-nos a Jesus. Se cada um de nós não mudar, nada mudará na sua Igreja. (...)

Vem, Espírito Santo, e defende-nos do risco de esquecer Jesus. Tolhidos pelos nossos medos e incertezas, não somos capazes de escutar a sua voz nem de sentir o seu alento. Desperta a nossa adesão, pois, se perdermos o contacto com ele, aumentará em nós o nervosismo e a insegurança.

José Antonio Pagola
12 de junho de 2011
Pentecostes (A)
Texto do Evangelho: João 20,19-23

Texto completo (em castelhano): http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/06/06/p296694#more296694


Novo começo

O evangelista João descreve de maneira insuperável a transformação que se produz nos discípulos, quando Jesus, cheio de vida, se apresenta no meio deles. O Ressuscitado está de novo no centro da sua comunidade de seguidores. Assim há-de ser para sempre. Com Ele, tudo é possível: libertar-se do medo, abrir as portas e pôr em andamento a evangelização.

Segundo o relato, a primeira coisa que Jesus passa à sua comunidade é a sua paz. Nada de crítica por o ter abandonado, nenhuma queixa, nenhuma reprovação. Só paz e alegria. Os discípulos sentem o seu alento creador. Tudo começa de novo. Impulsionados pelo Espírito, continuarão a colaborar ao longo dos séculos no mesmo projeto salvador que o Pai encomendou a Jesus.

O que necessita a Igreja de hoje não são só reformas religiosas e apelos à comunhão. Necessitamos de experimentar nas nossas comunidades um "novo começo" a partir da presença viva de Jesus no meio de nós. Só Ele há-de ocupar o centro da Igreja. Só Ele pode fazer avançar a comunhão. Só Ele pode renovar os nossos corações.

Jose Antonio Pagola
01 de maio de 2011
2º Domingo da Páscoa (A)
João 20, 19-31

texto completo (em castelhano) em : http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/04/25/p294128#more294128


Jesus tinha razão!

Que sentimos, nós os seguidores de Jesus quando nos atrevemos a crer de verdade que Deus ressuscitou Jesus? Que vivemos nós que continuamos a seguir os seus passos? Como nos comunicamos com Ele quando o experimentamos cheio de vida?

Jesus ressuscitado, Tu tinhas razão.
É verdade quanto nos disseste de Deus.
Agora sabemos que é um Pai fiel digno de toda a confiança. Um Deus que nos ama para além da morte: (...)
Que Ele é amigo da vida (...)
Que Ele faz justiça a todas as vítimas e inocentes: faz triunfar a vida sobre a morte, o bem sobre o mal, a verdade sobre a mentira, o amor sobre o ódio.(...)
Que Ele se identifica com os crucificados (...)

Jose Antonio Pagola
24 de abril de 2011
Domingo de Resurreição (A)
João 20, 1-9


Senhor Jesus

Minha força e meu fracasso
És Tu.
Minha herança e minha pobreza,
Tu minha justiça,
Jesus.

Minha guerra e minha paz
Minha livre liberdade.
Minha morte e minha vida,
Tu.
Palavra de meus gritos.
Silêncio da minha espera.
Testemunha de meus sonhos.
Cruz da minha Cruz.

Causa da minha amargura
Perdão do meu egoísmo,
Crime do meu processo,
Juiz do meu pobre pranto,
Razão da minha esperança,
Tu !
Minha Terra prometida
És Tu...

A Páscoa da minha Páscoa,
nossa glória para sempre
Senhor Jesus !

Pedro Casaldaliga
Bispo


Escândalo e loucura

Os primeiros cristãos sabiam-no bem. A sua fé num Deus crucificado só poderia ser considerada como como um escândalo e uma loucura. (..) Nessa vítima inocente, os seguidores de Jesus vemos um Deus identificado com todas as vítimas de todos os tempos.

Despojado de todo o poder dominador, de toda a beleza estética, de todo o êxito político e de toda a auréola religiosa, Deus revela-se-nos no mais puro e insondável do seu mistério como amor e só amor. Não existe nem nunca existirá um Deus frio, apático e indiferente. Só um Deus que padece connosco, sofre os nossos sofrimentos e morre a nossa morte.

Este Deus crucificado não é um Deus poderoso e controlador, que procura submeter os seus filhos e filhas buscando sempre a sua glória e honra. É um Deus humilde e paciente, que respeita até ao fim a liberdade do ser humano, ainda que nós abusemos frequentemente do seu amor. Prefere ser vítima das criaturas a ser o seu verdugo.

Este Deus crucificado não é o Deus justiceiro, ressentido e vingativo que continua a perturbar a consciência de não poucos crentes. Na Cruz, Deus não responde ao mal com o mal. (...) Enquanto nós falamos de méritos, culpas ou direitos adquiridos, Deus acolhe-nos a todos com o seu amor insondável, com o seu perdão.

Este Deus crucificado revela-se hoje em todas as vítimas inocentes. Está na cruz do calvário e em todas as cruzes onde sofrem e morrem os mais inocentes...

Nós os cristãos continuamos a celebrar o Deus crucificado para não esquecer nunca o amor louco de Deus para com a Humanidade e para manter viva a memória de todos os crucificados (...)

José Antonio Pagola
no seu blog http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/04/11/p293218#more293218
Domingo de Ramos (A) Mateus 26, 14-27,66 (17 de abril de 2011)


4º Domingo da Quaresma
Evangelho da cura do cego de nascença, João 9,1-41

Caminhos para a fé

Quando Jesus se encontra com aquele homem que parece nada entender (do que está a acontecer), só lhe faz uma pergunta: "Crês no Filho do Homem?" Crês no Homem Novo, o Homem plenamente humano precisamente por ser a expressão e a incarnação do mistério insondável de Deus? O mendigo está disposto a crer, mas encontra-se mais cego que nunca: "E quem é, Senhor, para que eu creia nele?"

Jesus diz-lhe: "Estás a vê-lo, é quem está a falar contigo". Ao cego abrem-se-lhe os olhos da alma. Prostra-se diante de Jesus e diz-lhe: "Creio, Senhor!" Só escutando Jesus e deixando-nos conduzir interiormente por ele, vamos caminhando para uma fé mais plena e também mais humilde.

José António Pagola
Texto completo (castelhano) em http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/03/28/p292300#more292300


3º Domingo da Quaresma
Evangelho: João 4,5-42

A Sede e os nossos cocktails...

Talvez a mais positiva de todas as perspectivas sobre o ser humano seja esta: a vida é sede.
Sede de amar e ser amado.
Sede de ser reconhecido naquilo que se é.
Sede de ser feliz.
Sede de infinito.
Sede de Vida.
Esta sede tão profundamente humana que se esconde dentro de nós sente-se na inquietação que nos habita e nos leva a por em causa as respostas que ontem nos pareciam correctas e hoje não nos convencem; na nossa procura constante de "mais", de mais longe, de mais alto;
na nossa procura insaciável da "novidade" a todo o custo;
na nossa insatisfação com o que somos e temos, de que a sociedade de consumo tanto aproveita;
nas nossas tentativas permanentes de "concretizar" a felicidade nesta ou naquela pessoa, nesta ou naquela relação, apesar de sabermos que nenhuma relação é perfeita;
nas misturas que vamos fazendo para matar a nossa sede, "misturando" o ser com o ter; o amor com o prazer egoísta; o ser reconhecido autenticamente com o dar nas vistas das aparências... espécie de "cocktails" complicados, em que os sabores se misturam... mas que não matam a sede, apenas a disfarçam.

Este terceiro domingo da Quaresma apresenta-nos toda esta sede personalizada na figura de uma mulher: a samaritana junto ao poço de Jacob.
Jesus leva a sério a sede daquela mulher, e chama-lhe a atenção que a sede de infinito só pelo Infinito pode ser saciada.
Se tivermos consciência disto, viveremos as manifestações de sede que dia a dia nos acompanham como apelos de Infinito.
Preparemos então os nossos "cocktails" para "saborear" a "sede", e não para apagá-la nem para enganá-la.Caminharemos para a Fonte da Água Viva, na medida em que vamos experimentando os limites das nossas "cisternas".

(JN)


2º Domingo da Quaresma
Evangelho da Transfiguração: Mateus 17,1-9

"Nietzsche acusava os cristãos de andarem sempre com cara de sexta-feira santa. Para que a Igreja não se torne uma tristeza, tem de se lembrar que, segundo S. João, na revelação de Jesus Cristo, tudo é para que a nossa alegria seja completa, na transfiguração do quotidiano."

Frei Bento Domingues, em O PÚBLICO, 20.03.2011


Transfiguração e Fukushima

"Uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra
e da núvem uma voz dizia:
este é o meu filho muito amado" (Mt 17,5)

Da núvem que nos esconde e nos revela Deus
há poucos sinais no céu pouca luz
e poucas testemunhas seguras na terra
A ela se dirige a nossa oração interrogação

Uma outra núvem nos preocupa nestes dias:
Essa núvem-sombra de particulas radioactivas
que sobe de Fukushima
e ameaça o povo do Japão e o mundo

Mas havemos de continuar a acreditar em Deus
este Deus que diz à humanidade ameaçada
sois os meus filhos bem amados
conheço a vossa angústia escuto a vossa oração
trabalhai comigo no mundo em transfiguração

jn
18.03.2011


Estás cercado de ti, por todos os lados

Para te livrares de ti mesmo
lança uma ponte
por cima do abismo de solidão
que o teu egoísmo criou.

Trata de ver, além de ti.
Busca ouvir alguém.
E, sobretudo,
tenta o esforço de amar
ao invés de simplesmente te amares

D. Hélder Câmara


1º domingo da Quaresma (13 de Março 2011)
Tentações

Não foi nada fácil para Jesus manter-se fiel a missão recebida do seu Pai, sem desviar-se da Sua vontade. Os evangelhos recordam a sua luta interior e as provas que teve que superar, junto com os discípulos, ao longo da sua vida. (...)

O episódio conhecido como "as tentações de Jesus" é um relato em que se reúnem e resumem as tentações que Jesus teve de superar. Ainda que movido pelo Espírito recebido no Jordão, nada o dispensa de se sentir atraído por caminhos de um falso messianismo.

Deve escutar o seu próprio interesse ou escutar a vontade do Pai? Deve impor o sue poder de Messias ou colocar-se ao serviço do que necessitam? Deve procurar a sua própria glória, ou manifestar a compaixão de Deus para com os que sofrem? Há que evitar riscos e fugir à cruz, ou entregar-se à sua missão, confiando no Pai?

O relato das tentações de Jesus foi recolhido nos evangelhos para alertar os seus seguidores. Temos de ser lúcidos. O Espírito de Jesus está vivo na sua Igreja, mas nós os cristãos não estamos livres de vir a falsear uma e outra vez a nossa identidade, caindo em múltiplas tentações.

José Antonio Pagola
Mateus 4, 1-11

Texto completo em http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/03/07/p290855#more290855


9º domingo comum A (6 de março de 2011)
A força do Evangelho

Mateus conclui o grande discurso de Jesus sobre a montanha da Galileia com duas breves parábolas, narradas com mestria e para todos fáceis de recordar. A sua mensagem é decisiva: seguir Jesus consiste em "escutar as suas palavras" e "pô-las em prática". Se não fazemos isto, o nosso cristianismo é uma insensatez. (...)

Na consciência moderna produziu-se uma mudança cultural profunda, que está a por em crise o despertar e a vivência da fé cristã. Cada vez mais é difícil despertar uma fé viva em Deus e em Jesus Cristo pela via do "doutrinamento". Por duas razões:

Por um lado está em crise a autoridade, toda a autoridade. É difícil que a fé hoje brote de uma obediência a uma autoridade religiosa que se apresente como possuidora da verdade. (...)
Por outro lado, mais do que uma doutrina religiosa, as pessoas buscam uma experiência que as ajude a viver a vida com sentido e esperança. Muitos homens e mulheres distanciam-se assim quase instintivamente de qualquer iniciação à fé entendida como "processo de aprendizagem"

Temos de acreditar muito mais na força transformadora do Evangelho.
As palavras de Jesus têm mais poder do que as nossas doutrinas. A sua Boa Notícia é mais atraente do que todos os nossos sermões. Não terá chegado o momento de formar grupos, criar espaços, possibilitar encontros em que as pessoas de hoje tenham oportunidade de entrar em contacto directo com o Evangelho para escutar Jesus e descobrir juntos a sua Boa Notícia?
Muitos dos que se sentem perdidos e vivem sem esperança poderiam descobrir com alegria que não estão sós, que podem confiar num Deus Pai e que podem viver com a esperança de Jesus. É o que eles mais precisam.

José Antonio Pagola
9º domingo comum (A)
Mateus 7, 21-27

Texto completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php


 

Jesus e o desejo

Por que será que Jesus põe Deus e o dinheiro em concorrência? Por uma razão muito simples: a sacralização do dinheiro e do seu império é uma idolatria. Faz dele o absoluto critério de tudo. É preciso sacrificar-lhe tudo e todos os valores. O rico nunca pensa que é suficientemente rico e o pobre ou remediado o que deseja é ser rico. A publicidade incendeia a insatisfação, o desejo, para nos tornar infelizes se não tivermos tudo, e já, que ela nos propõe.

Jesus Cristo não vê no desejo um mal nem propõe o esvaziamento do desejo como suprema iluminação. Propõe a conversão do desejo: onde tiveres o teu tesouro, aí estará o teu coração. Zaqueu, o rico, percebeu isso rapidamente. Passou a restituir o roubo, a nunca mais se aproveitar das necessidades dos outros e a partilhar os seus bens. Jesus comentou: "A salvação entrou na tua casa", o que não tinha acontecido na parábola do jovem rico.

Não há rivalidade entre Deus e a riqueza. Há rivalidade entre a Plenitude da Vida e a distorção do desejo que se deixa possuir pelo fascínio do dinheiro e de tudo o que ele exige e permite.

Fr. Bento Domingues, in "Público", 27.02.2011


8º domingo comum A (27 de fevereiro de 2011)
Acima de tudo

"Acima de tudo procurai o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo". As palavras de Jesus não podem ser mais claras. A primeira coisa que temos de procurar, nós os seus seguidores, é o "reino de Deus e a sua justiça", o resto vem depois. Vivemos, nós os cristãos, preocupados em construir um mundo mais humano, tal como Deus o quer, ou estamos a gastar as nossas energias em coisas secundárias e acidentais?

É uma questão importante. É decisivo saber se estamos a ser fiéis ao objectivo prioritário marcado por Jesus, ou se estamos a desenvolver uma religiosidade que nos desvia da paixão que ele trazia no seu coração. Não teremos talvez de corrigir o rumo e centrar o nosso cristianismo com mais fidelidade no projecto do Reino de Deus?

José Antonio Pagola
Mateus 6, 24-34

Texto completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php


7º domingo comum A
Amar a quem nos faz mal

O chamamento ao amor é sedutor. Seguramente, muitos escutavam com agrado o convite de Jesus a viver numa atitude aberta de amizade e generosiddade para com todos. O que menos esperavam era ouvi-lo falar do amor aos inimigos. Só um louco lhes podia dizer com aquela convicção algo tão absurdo e impensável: "Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos perseguem, perdoai setenta vezes sete...." Será que Jesus sabe o que está a dizer? É mesmo isso que Deus quer?

Jesus não fala por acaso. O seu convite nasce da sua experiência de Deus. O Pai de todos não é violento mas sim compassivo. Não procura a vingança nem conhece o ódio. O Seu amor é incondicional para com todos: "Ele faz nascer o sol sobre os bons e sobre os maus, manda a chuva a justos e insjutos". Não discrimina ninguém. Não ama só os que lhe são fiéis. O Seu amor está aberto a todos.

Este Deus que não exclui ninguém do seu amor nos há-de atrair a viver como Ele. Esta é a síntese do chamamento de Jesus. (...)
Jesus não está a pensar que lhes queiramos com o afecto que sentimos para com os nossos mais queridos. Amar os inimigos é, simplesmente, não nos vingarmos, não lhes fazer mal, não lhes desejar mal. (...)

José Antonio Pagola
20.02.2011
Texto do Evangelho: Mateus 5, 38-48


Texto completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/02/14/p289473#more289473


6º domingo comum A
O cumprimento da Lei e o Amor de Deus

Quando se procura a vontade do Pai com a paixão com que o faz o próprio Jesus, vai-se sempre mais além do que aquilo que dizem as leis. Para caminhar para esse mundo mais humano que Deus quer para todos, o importante não é contar com pessoas que observam leis, mas sim com mulheres e homens que se pareçam com ele.
Aquele que não mata, cumpre a Lei, mas se não arranca do seu coração a agressividade para com o irmão, não se parece com Deus. Aquele que não comete adultério, cumpre a Lei, mas se deseja egoisticamente a esposa do seu irmão, não se parece com Deus. Nestas pessoas reina a Lei, mas não Deus; são cumpridores, mas não sabem amar; vivem correctamente, mas não construirão um mundo mais humano.

Jose Antonio Pagola
comentário para o VI Domingo Comum A
13.02.2011
Texto do Evangelho: Mt 5, 17-37