O
que te atraiçoa
Tu
também és uns desses
que andam com Jesus.
A tua línguagem
atraiçoa-te
o teu sorriso
a facilidade com que tu
te pões
a sonhar o impossível,
te pões a dizer o inexprimível
e
te pões a fazer coisas fora do comum.
Mas
também essa mania
de te empenhares
de ajudares outros.
O teu amor
à verdade,
a tua inquietação
quando alguém precisa,
a
tua fome e sede
de justiça.
Esta
confiança inexplicável,
que te suporta, a paz
que irradia
de ti.
Como quando vês
os que os simples mortais
não vêem
não
vêem nem imaginam !
Lothar
Zenetti
NATAL
2011
Anuncio-vos
uma grande alegria:
Nasceu-vos HOJE um salvador!
- assim anunciaram os
anjos o nascimento de Jesus aos pastores de Belém, no meio da noite.
HOJE
S.
Lucas faz questão de sublinhar este HOJE: fá-lo várias vezes
ao longo do seu Evangelho: "Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura";
"hoje entrou a salvação nesta casa"; "hoje mesmo
estarás comigo no paraíso".... É o hoje de Deus, um
hoje sem tempo, sem risco de se tornar passado, porque Deus é Javé,
Aquele que é.
Este HOJE da salvação chega HOJE aqui ao
meio de nós; a luz que os invadiu naquela noite é a luz que invade
as nossas almas HOJE e aqui; a alegria anunciada aos pastores torna-se HOJE a
nossa alegria...
Que
alegria é esta?
È a alegria de sabermos na fé,
de acreditarmos, que Deus veio habitar no meio de nós. O nosso Deus não
é o Deus distante: Ele vem meter-se na nossa vida, tornando-se um de nós
- vem percorrer os caminhos do nosso mundo, fazendo deles caminhos de salvação.
A
salvação veio ao nosso encontro. É-nos dada! Está
no meio de nós! É-nos dada num menino frágil - esta é
lógica de Deus - que não se impõe, por qualquer tipo de poder,
mas se oferece, para ser acolhido.
É
alegria de sentirmos neste Menino de Belém quanto Deus nos ama,: "Glória
a Deus nas alturas e paz na Terra às pessoas, que Deus ama"!
Os
primeiros a receber esta alegre notícia foram os pastores: e também
aqui há uma mensagem de Natal:
Não foi aos grandes e poderosos
de Roma e de Jerusalém que Deus se dirigiu...
Não foi aos sacerdotes
e aos bem-comportados daquele tempo, àqueles a quem a relgião considerava
salvos, aos que cumpriam todas as leis religiosas e morais, não foi a eles
que Deus se dirigiu...
Nem foi aos habitantes da cidade, conformados e satisfeitos
com o seu relativo bem estar...
FOI
AOS PASTORES, gente marginal, considerada primitiva, suspeitos aos olhos dos representantes
da lei e da religião
- foi a eles que Deus anunciou a notícia
alegre do nascimento do Salvador.
Se nós, os que estamos aqui, nos sentimos
tantas vezes do lado destes pastores, na consciência das nossas fraquezas
e falhas, alegremo-nos HOJE ! É a nós que Deus se dirige: "Não
temais... encontrareis um Menino..."
Era
bom que todas as pessoas do nosso tempo ouvissem este convite de Deus, que alegra
a vida. A começar por aqueles e aquelas que se sentem marginalizados/as
pela instituições e pela Igreja.... aqueles e aquelas cujas vidas
nem sempre correm conformes às regras e às leis. Era bom que a eles/elas
chegasse HOJE a mensagem que chegou aos pastores...
E também aos têm
medo do futuro. Nos nossos dias, fala-se tanto de crise. Vivemos tempos inseguros,
incertos... os especialistas e entendidos da economia e da política mostram
um certo nervosismo. Muitos sentem já esta crise, no seu dia a dia: os
mais pobres, os desempregados a longo prazo, os dependenetes das instituições
sociais... Tempos duros....
Quase que podíamos dizer como no tempo de
Isaías: o povo que andava na escuridão, os que viviam na sombra...
na escuridão da noite... É a esses que Isaías reanima na
esperança, anunciando a salvação, com a imagem da luz que
a todos ilumina, com a chegada de tempos de paz, de confiança, de fraternidade.
Celebrar
o Natal para nós HOJE é acreditar que Deus já está
no meio de nós, sem nós o merecermos, é verdade - nós
somos como os pastores! - que Ele vem iluminar, Ele quer iluminar, com a Sua luz
a nossa vida. Vem com o seu amor que é maior que todas as nossas fraquezas.
Dá-nos a salvação como prenda!
Deixemos de lado as divisões,
as guerras, os egoísmos interesseiros.. Tornemo-nos solidários.
Ultrapassemos os medos do futuro, confiando a nossa vida a este Deus, como o fez
Jesus de Nazaré, este menino, cujo nascimento hoje celebramos!
Alegremo-nos
HOJE, uns aos outros e uns com os outros, porque é Natal.
JN
Meditação
na noite de Natal 2011
O
Deus do convite
Segundo
a parábola do Evangelho, Deus está a preparar uma festa final para
todos os seus filhos e filhas, pois a todos quer ver sentados à volta da
mesma mesa, desfrutando para sempre de uma vida plena. Esta é uma das imagens
mais queridas de Jesus para sugerir como será o fim da história
humana.
Diante
de tantas imagens mesquinhas de um Deus controlador e justiceiro que impede a
muitos de saborear a fé e desfrutar da vida, Jesus introduz no mundo a
experiência de um Deus que nos convida a partilhar com Ele uma festa fraterna,
na qual culminarão o melhor dos nossos esforços, anseios e aspirações.
José
Antonio Pagola
9 de outubro de 2011
28 Tiempo ordinario (A)
Mateus 22,
1-14
Texto completo (em castelhano):
http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/10/03/p302844#more302844
"Coragem!
Sou eu!"
S.
Mateus recolheu a lembrança de uma tempestade vivida pelos discípulos
no mar da Galileia para convidar os seus leitores a escutar, no meio das crises
e dos conflitos que se vivem nas comunidades cristãs, o apelo de Jesus
a confiar n`Ele.
(...) Quando Jesus se aproxima, caminhando sobre as águas,
os discípulos não o reconhecem e, aterrados, começam a gritar,
cheios de medo. O Evangelista faz questão de assinalar que o medo deles
não era provocado pela tempestade, mas sim pela incapacidade de descobrir
a presença de Jesus no meio da crise e de escutar o seu grito: "Coragem,
sou eu, não tenhais medo!"
José
Antonio Pagola
7 de agosto de 2011
19º domingo comum (A)
Mateus14,
22-33
Texto
completo (em castelhano):
http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/08/01/p299799#more299799
Pentecostes
Redescobrir
o Essencial
Será
legítimo chamar "Contra-Reforma" a um conjunto de manifestações
clerocratas e devocionais que se julgava, definitivamente, abandonadas depois
do Vaticano II? Não sei, mas pelo que me é dado observar, impõe-se,
com urgência, tentar redescobrir o essencial do cristianismo para que a
acção pastoral da Igreja não troque o principal pelo secundário.
Para esse debate será importante convocar a posição radical
de S. Tomás de Aquino . Segundo este grande filósofo e teólogo
dominicano, a lei nova, isto é, o próprio Evangelho, é uma
lei inscrita no coração. Toda a realidade existe e se define pelo
que, nela, é o valor supremo; ora, o que na lei da nova aliança
é o valor supremo, aquilo em que consiste todo o seu poder, é a
graça do Espírito Santo dada pela fé em Cristo. É
infundida no coração como inclinação de amor e fonte
de liberdade. Tudo o resto é secundário, isto é, só
pode servir para secundar, preparar e exprimir essa libertação.
Carregar
os fiéis com códigos, prescrições e proibições
é contrariar essa lei nova. Sem esse Espírito, até a própria
letra do Novo Testamento mata. Tomás de Aquino vai ao ponto de dizer que
quem evita o mal, não porque é mal, mas por causa do mandamento
de Deus, não é livre; mas aquele que evita o mal porque é
mal, esse é livre e é isso que é realizado pelo Espírito
Santo, aperfeiçoando, interiormente, o ser humano.
Frei
Bento Domingues,
in O PÚBLICO, Lisboa, 12.06.2011
(Extracto)
Pentecostes
Segundo
S. João, o Espírito torna presente Jesus na Comunidade Cristã,
recordando-nos a sua mensagem, fazendo-nos caminhar na sua verdade, interiorizando
em nós o seu mandamento do amor. É esse Espírito que nós
invocamos na Festa do Pentecostes.
Vem,
Espírito Santo,
e ensina-nos a invocar a Deus com esse nome de "Pai", que Jesus nos
ensinou. (...)
Vem,
Espírito Santo, e faz-nos caminhar na verdade de Jesus. Sem a tua luz
e o teu alento esqueceremos com frequência o seu projecto do Reino de Deus.
Viveremos sem paixão e sem esperança. (...)
Vem,
Espírito Santo, e ensina-nos a anunciar a Boa Nova de Jesus. Que não
lancemos cargas pesadas sobre ninguém. Que não ditemos sobre problemas
que não nos doem, nem condenemos a quem necessita sobretudo de acolhimento
e de compreensão. Que nunca quebremos a cana rachada nem apaguemos a torcida
que fumega.
Vem,
Espírito Santo, e infunde em nós a experiência religiosa
de Jesus. Que não percamos tempo em trivialidades enquanto esquecemos a
justiça, a misericórdia e a fé.(...)
Vem,
Espírito Santo, e aumenta a nossa fé para experimentarmos a
força de Jesus no centro de nós mesmos e da nossa debilidade. (...)
Vem,
Espírito Santo, transforma os nossos corações e converte-nos
a Jesus. Se cada um de nós não mudar, nada mudará na sua
Igreja. (...)
Vem,
Espírito Santo, e defende-nos do risco de esquecer Jesus. Tolhidos
pelos nossos medos e incertezas, não somos capazes de escutar a sua voz
nem de sentir o seu alento. Desperta a nossa adesão, pois, se perdermos
o contacto com ele, aumentará em nós o nervosismo e a insegurança.
José
Antonio Pagola
12 de junho de 2011
Pentecostes (A)
Texto do Evangelho:
João 20,19-23
Texto
completo (em castelhano): http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/06/06/p296694#more296694
Novo começo
O
evangelista João descreve de maneira insuperável a transformação
que se produz nos discípulos, quando Jesus, cheio de vida, se apresenta
no meio deles. O Ressuscitado está de novo no centro da sua comunidade
de seguidores. Assim há-de ser para sempre. Com Ele, tudo é possível:
libertar-se do medo, abrir as portas e pôr em andamento a evangelização.
Segundo
o relato, a primeira coisa que Jesus passa à sua comunidade é a
sua paz. Nada de crítica por o ter abandonado, nenhuma queixa, nenhuma
reprovação. Só paz e alegria. Os discípulos sentem
o seu alento creador. Tudo começa de novo. Impulsionados pelo Espírito,
continuarão a colaborar ao longo dos séculos no mesmo projeto salvador
que o Pai encomendou a Jesus.
O que necessita a Igreja de hoje não
são só reformas religiosas e apelos à comunhão. Necessitamos
de experimentar nas nossas comunidades um "novo começo" a partir
da presença viva de Jesus no meio de nós. Só Ele há-de
ocupar o centro da Igreja. Só Ele pode fazer avançar a comunhão.
Só Ele pode renovar os nossos corações.
Jose
Antonio Pagola
01 de maio de 2011
2º Domingo da Páscoa (A)
João 20, 19-31
texto
completo (em castelhano) em : http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/04/25/p294128#more294128
Jesus tinha razão!
Que
sentimos, nós os seguidores de Jesus quando nos atrevemos a crer de verdade
que Deus ressuscitou Jesus? Que vivemos nós que continuamos a seguir os
seus passos? Como nos comunicamos com Ele quando o experimentamos cheio de vida?
Jesus
ressuscitado, Tu tinhas razão.
É verdade quanto nos disseste
de Deus.
Agora sabemos que é um Pai fiel digno de toda a confiança.
Um Deus que nos ama para além da morte: (...)
Que Ele é amigo
da vida (...)
Que Ele faz justiça a todas as vítimas e inocentes:
faz triunfar a vida sobre a morte, o bem sobre o mal, a verdade sobre a mentira,
o amor sobre o ódio.(...)
Que Ele se identifica com os crucificados
(...)
Jose
Antonio Pagola
24 de abril de 2011
Domingo de Resurreição
(A)
João 20, 1-9
Senhor
Jesus
Minha
força e meu fracasso
És Tu.
Minha herança e minha pobreza,
Tu
minha justiça,
Jesus.
Minha
guerra e minha paz
Minha livre liberdade.
Minha morte e minha vida,
Tu.
Palavra
de meus gritos.
Silêncio da minha espera.
Testemunha de meus sonhos.
Cruz
da minha Cruz.
Causa
da minha amargura
Perdão do meu egoísmo,
Crime do meu processo,
Juiz
do meu pobre pranto,
Razão da minha esperança,
Tu !
Minha
Terra prometida
És Tu...
A
Páscoa da minha Páscoa,
nossa glória para sempre
Senhor
Jesus !
Pedro
Casaldaliga
Bispo
Escândalo
e loucura
Os
primeiros cristãos sabiam-no bem. A sua fé num Deus crucificado
só poderia ser considerada como como um escândalo e uma loucura.
(..) Nessa vítima inocente, os seguidores de Jesus vemos um Deus identificado
com todas as vítimas de todos os tempos.
Despojado
de todo o poder dominador, de toda a beleza estética, de todo o êxito
político e de toda a auréola religiosa, Deus revela-se-nos no
mais puro e insondável do seu mistério como amor e só amor.
Não existe nem nunca existirá um Deus frio, apático e indiferente.
Só um Deus que padece connosco, sofre os nossos sofrimentos e morre a nossa
morte.
Este
Deus crucificado não é um Deus poderoso e controlador, que
procura submeter os seus filhos e filhas buscando sempre a sua glória e
honra. É um Deus humilde e paciente, que respeita até ao fim a liberdade
do ser humano, ainda que nós abusemos frequentemente do seu amor. Prefere
ser vítima das criaturas a ser o seu verdugo.
Este Deus crucificado
não é o Deus justiceiro, ressentido e vingativo que continua
a perturbar a consciência de não poucos crentes. Na Cruz, Deus
não responde ao mal com o mal. (...) Enquanto nós falamos de méritos,
culpas ou direitos adquiridos, Deus acolhe-nos a todos com o seu amor insondável,
com o seu perdão.
Este Deus crucificado revela-se hoje em todas
as vítimas inocentes. Está na cruz do calvário e em todas
as cruzes onde sofrem e morrem os mais inocentes...
Nós os cristãos
continuamos a celebrar o Deus crucificado para não esquecer nunca o
amor louco de Deus para com a Humanidade e para manter viva a memória
de todos os crucificados (...)
José
Antonio Pagola
no seu blog http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/04/11/p293218#more293218
Domingo
de Ramos (A) Mateus 26, 14-27,66 (17 de abril de 2011)
4º
Domingo da Quaresma
Evangelho da cura do cego de nascença, João
9,1-41
Caminhos
para a fé
Quando
Jesus se encontra com aquele homem que parece nada entender (do que está
a acontecer), só lhe faz uma pergunta: "Crês no Filho do Homem?"
Crês no Homem Novo, o Homem plenamente humano precisamente por ser a expressão
e a incarnação do mistério insondável de Deus? O mendigo
está disposto a crer, mas encontra-se mais cego que nunca: "E quem
é, Senhor, para que eu creia nele?"
Jesus
diz-lhe: "Estás a vê-lo, é quem está a falar contigo".
Ao cego abrem-se-lhe os olhos da alma. Prostra-se diante de Jesus e diz-lhe: "Creio,
Senhor!" Só escutando Jesus e deixando-nos conduzir interiormente
por ele, vamos caminhando para uma fé mais plena e também mais
humilde.
José
António Pagola
Texto completo (castelhano) em http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/03/28/p292300#more292300
3º
Domingo da Quaresma
Evangelho: João 4,5-42
A
Sede e os nossos cocktails...
Talvez
a mais positiva de todas as perspectivas sobre o ser humano seja esta: a vida
é sede.
Sede
de amar e ser amado.
Sede de ser reconhecido naquilo que se é.
Sede
de ser feliz.
Sede de infinito.
Sede de Vida.
Esta sede tão profundamente
humana que se esconde dentro de nós sente-se na inquietação
que nos habita e nos leva a por em causa as respostas que ontem nos pareciam correctas
e hoje não nos convencem; na nossa procura constante de "mais",
de mais longe, de mais alto;
na nossa procura insaciável da "novidade"
a todo o custo;
na nossa insatisfação com o que somos e temos,
de que a sociedade de consumo tanto aproveita;
nas nossas tentativas permanentes
de "concretizar" a felicidade nesta ou naquela pessoa, nesta ou naquela
relação, apesar de sabermos que nenhuma relação é
perfeita;
nas misturas que vamos fazendo para matar a nossa sede, "misturando"
o ser com o ter; o amor com o prazer egoísta; o ser reconhecido autenticamente
com o dar nas vistas das aparências... espécie de "cocktails"
complicados, em que os sabores se misturam... mas que não matam a sede,
apenas a disfarçam.
Este terceiro domingo da Quaresma apresenta-nos
toda esta sede personalizada na figura de uma mulher: a samaritana junto ao poço
de Jacob.
Jesus leva a sério a sede daquela mulher, e chama-lhe a atenção
que a sede de infinito só pelo Infinito pode ser saciada.
Se tivermos
consciência disto, viveremos as manifestações de sede que
dia a dia nos acompanham como apelos de Infinito.
Preparemos então
os nossos "cocktails" para "saborear" a "sede",
e não para apagá-la nem para enganá-la.Caminharemos para
a Fonte da Água Viva, na medida em que vamos experimentando os limites
das nossas "cisternas".
(JN)
2º
Domingo da Quaresma
Evangelho da Transfiguração: Mateus
17,1-9
"Nietzsche
acusava os cristãos de andarem sempre com cara de sexta-feira santa. Para
que a Igreja não se torne uma tristeza, tem de se lembrar que, segundo
S. João, na revelação de Jesus Cristo, tudo é para
que a nossa alegria seja completa, na transfiguração do quotidiano."
Frei Bento Domingues, em O PÚBLICO, 20.03.2011
Transfiguração
e Fukushima
"Uma
nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra
e da núvem uma voz dizia:
este é o meu filho muito amado" (Mt 17,5)
Da
núvem que nos esconde e nos revela Deus
há poucos sinais no céu
pouca luz
e poucas testemunhas seguras na terra
A ela se dirige a nossa
oração interrogação
Uma
outra núvem nos preocupa nestes dias:
Essa núvem-sombra de particulas
radioactivas
que sobe de Fukushima
e ameaça o povo do Japão
e o mundo
Mas
havemos de continuar a acreditar em Deus
este Deus que diz à humanidade
ameaçada
sois os meus filhos bem amados
conheço a vossa angústia
escuto a vossa oração
trabalhai comigo no mundo em transfiguração
jn
18.03.2011
Estás
cercado de ti, por todos os lados
Para
te livrares de ti mesmo
lança uma ponte
por cima do abismo de solidão
que o teu egoísmo criou.
Trata
de ver, além de ti.
Busca ouvir alguém.
E, sobretudo,
tenta o esforço de amar
ao invés de simplesmente te amares
D.
Hélder Câmara
1º domingo da Quaresma
(13 de Março 2011)
Tentações
Não
foi nada fácil para Jesus manter-se fiel a missão recebida do seu
Pai, sem desviar-se da Sua vontade. Os evangelhos recordam a sua luta interior
e as provas que teve que superar, junto com os discípulos, ao longo da
sua vida. (...)
O episódio conhecido como "as tentações
de Jesus" é um relato em que se reúnem e resumem as tentações
que Jesus teve de superar. Ainda que movido pelo Espírito recebido no Jordão,
nada o dispensa de se sentir atraído por caminhos de um falso messianismo.
Deve escutar o seu próprio interesse ou escutar a vontade do Pai?
Deve impor o sue poder de Messias ou colocar-se ao serviço do que necessitam?
Deve procurar a sua própria glória, ou manifestar a compaixão
de Deus para com os que sofrem? Há que evitar riscos e fugir à cruz,
ou entregar-se à sua missão, confiando no Pai?
O relato
das tentações de Jesus foi recolhido nos evangelhos para alertar
os seus seguidores. Temos de ser lúcidos. O Espírito de Jesus
está vivo na sua Igreja, mas nós os cristãos não estamos
livres de vir a falsear uma e outra vez a nossa identidade, caindo em múltiplas
tentações.
José
Antonio Pagola
Mateus 4, 1-11
Texto
completo em http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/03/07/p290855#more290855
9º domingo comum
A (6 de março de 2011)
A força do Evangelho
Mateus
conclui o grande discurso de Jesus sobre a montanha da Galileia com duas breves
parábolas, narradas com mestria e para todos fáceis de recordar.
A sua mensagem é decisiva: seguir Jesus consiste em "escutar as
suas palavras" e "pô-las em prática". Se
não fazemos isto, o nosso cristianismo é uma insensatez. (...)
Na consciência moderna produziu-se uma mudança cultural profunda,
que está a por em crise o despertar e a vivência da fé cristã.
Cada vez mais é difícil despertar uma fé viva em Deus e em
Jesus Cristo pela via do "doutrinamento". Por duas razões:
Por um lado está em crise a autoridade, toda a autoridade. É
difícil que a fé hoje brote de uma obediência a uma autoridade
religiosa que se apresente como possuidora da verdade. (...)
Por outro lado,
mais do que uma doutrina religiosa, as pessoas buscam uma experiência que
as ajude a viver a vida com sentido e esperança. Muitos homens e mulheres
distanciam-se assim quase instintivamente de qualquer iniciação
à fé entendida como "processo de aprendizagem"
Temos de acreditar muito mais na força transformadora do Evangelho.
As palavras de Jesus têm mais poder do que as nossas doutrinas. A sua Boa
Notícia é mais atraente do que todos os nossos sermões. Não
terá chegado o momento de formar grupos, criar espaços, possibilitar
encontros em que as pessoas de hoje tenham oportunidade de entrar em contacto
directo com o Evangelho para escutar Jesus e descobrir juntos a sua Boa Notícia?
Muitos dos que se sentem perdidos e vivem sem esperança poderiam descobrir
com alegria que não estão sós, que podem confiar num Deus
Pai e que podem viver com a esperança de Jesus. É o que eles mais
precisam.
José
Antonio Pagola
9º domingo comum (A)
Mateus 7, 21-27
Texto
completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php
Jesus
e o desejo
Por
que será que Jesus põe Deus e o dinheiro em concorrência?
Por uma razão muito simples: a sacralização do dinheiro e
do seu império é uma idolatria. Faz dele o absoluto critério
de tudo. É preciso sacrificar-lhe tudo e todos os valores. O rico nunca
pensa que é suficientemente rico e o pobre ou remediado o que deseja é
ser rico. A publicidade incendeia a insatisfação, o desejo, para
nos tornar infelizes se não tivermos tudo, e já, que ela nos propõe.
Jesus
Cristo não vê no desejo um mal nem propõe o esvaziamento do
desejo como suprema iluminação. Propõe a conversão
do desejo: onde tiveres o teu tesouro, aí estará o teu coração.
Zaqueu, o rico, percebeu isso rapidamente. Passou a restituir o roubo, a nunca
mais se aproveitar das necessidades dos outros e a partilhar os seus bens. Jesus
comentou: "A salvação entrou na tua casa", o que não
tinha acontecido na parábola do jovem rico.
Não
há rivalidade entre Deus e a riqueza. Há rivalidade entre a Plenitude
da Vida e a distorção do desejo que se deixa possuir pelo fascínio
do dinheiro e de tudo o que ele exige e permite.
Fr.
Bento Domingues, in "Público", 27.02.2011
8º domingo comum
A (27 de fevereiro de 2011)
Acima de tudo
"Acima
de tudo procurai o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será
dado por acréscimo". As palavras de Jesus não podem ser mais
claras. A primeira coisa que temos de procurar, nós os seus seguidores,
é o "reino de Deus e a sua justiça", o resto vem depois.
Vivemos, nós os cristãos, preocupados em construir um mundo mais
humano, tal como Deus o quer, ou estamos a gastar as nossas energias em coisas
secundárias e acidentais?
É
uma questão importante. É decisivo saber se estamos a ser fiéis
ao objectivo prioritário marcado por Jesus, ou se estamos a desenvolver
uma religiosidade que nos desvia da paixão que ele trazia no seu coração.
Não teremos talvez de corrigir o rumo e centrar o nosso cristianismo com
mais fidelidade no projecto do Reino de Deus?
José
Antonio Pagola
Mateus 6, 24-34
Texto
completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php
7º
domingo comum A
Amar a quem nos faz mal
O
chamamento ao amor é sedutor. Seguramente, muitos escutavam com agrado
o convite de Jesus a viver numa atitude aberta de amizade e generosiddade para
com todos. O que menos esperavam era ouvi-lo falar do amor aos inimigos.
Só um louco lhes podia dizer com aquela convicção algo tão
absurdo e impensável: "Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos
perseguem, perdoai setenta vezes sete...." Será que Jesus sabe o que
está a dizer? É mesmo isso que Deus quer?
Jesus
não fala por acaso. O seu convite nasce da sua experiência de Deus.
O Pai de todos não é violento mas sim compassivo. Não
procura a vingança nem conhece o ódio. O Seu amor é incondicional
para com todos: "Ele faz nascer o sol sobre os bons e sobre os maus, manda
a chuva a justos e insjutos". Não discrimina ninguém. Não
ama só os que lhe são fiéis. O Seu amor está aberto
a todos.
Este
Deus que não exclui ninguém do seu amor nos há-de atrair
a viver como Ele. Esta é a síntese do chamamento de Jesus. (...)
Jesus não está a pensar que lhes queiramos com o afecto que sentimos
para com os nossos mais queridos. Amar os inimigos é, simplesmente,
não nos vingarmos, não lhes fazer mal, não lhes desejar mal.
(...)
José
Antonio Pagola
20.02.2011
Texto do Evangelho: Mateus 5, 38-48
Texto completo (castelhano) em: http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/02/14/p289473#more289473
6º
domingo comum A
O cumprimento da Lei e o Amor de Deus
Quando
se procura a vontade do Pai com a paixão com que o faz o próprio
Jesus, vai-se sempre mais além do que aquilo que dizem as leis. Para caminhar
para esse mundo mais humano que Deus quer para todos, o importante não
é contar com pessoas que observam leis, mas sim com mulheres e homens que
se pareçam com ele.
Aquele que não mata, cumpre a Lei, mas se
não arranca do seu coração a agressividade para com o irmão,
não se parece com Deus. Aquele que não comete adultério,
cumpre a Lei, mas se deseja egoisticamente a esposa do seu irmão, não
se parece com Deus. Nestas pessoas reina a Lei, mas não Deus; são
cumpridores, mas não sabem amar; vivem correctamente, mas não construirão
um mundo mais humano.
Jose
Antonio Pagola
comentário para o VI Domingo Comum A
13.02.2011
Texto do Evangelho: Mt 5, 17-37